terça-feira, 28 de outubro de 2014

de 'o pinóquio' (e outras fábulas mais)...


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No tempo em que os animais sorriam...


Quando, cerca de duas semanas antes de as acções do BES passarem a valer zero, o Presidente da República disse que os portugueses podiam «confiar» no BES, toda a gente ficou mais ou menos convencida de que Cavaco Silva não ganharia o Nobel da Economia deste ano. 
Confirmou-se: o prémio foi atribuído a um francês, que tem optado por fazer declarações relativamente sensatas. Enfim, são estratégias. 

Neste momento, creio que Cavaco já percebeu que a Economia não o merece. E parece-me que começou a preparar a candidatura ao Nobel da Literatura, pois está com uma capacidade de efabulação prodigiosa e com um estilo muito fresco. Há, em Cavaco Silva, uma disposição para o maravilhamento, um impulso para observar o Mundo, para aquela operação poética a que Alberto Caeiro apelidava de «ver como um danado». O que é curioso, na mundivisão de Cavaco Silva, é que somos nós que ficamos danados com aquilo que ele vê.

Esta semana, o Presidente quis esclarecer «uma coisa completamente errada»: «os contribuintes não vão suportar os custos do BES»
É uma declaração do domínio da fábula, que é o mundo no qual Cavaco costuma viver. Para o Presidente, que vê vacas a sorrir e segreda palavras meigas ao ouvido de cagarras, o tempo em que os animais falavam é Hoje. Ora, vigorando na nossa economia a "lei da selva", que perspectiva pode ser mais acertada que a de La Fontaine? Que modo de observar a realidade pode produzir melhores efeitos que o da narrativa alegórica repleta de imaginação, fantasia e animais com características humanas? 

Se Cavaco diz que não vamos pagar os custos do BES, eu acredito assim como acreditei em Esopo... A história da cigarra e da formiga mostra-nos que é importante precaver o Futuro. A história da tartaruga e da lebre avisa-nos para os perigos da Sobranceria. E a história de Cavaco ensina-nos que os contribuintes não vão pagar o BES.

Há apenas uma diferença entre as fábulas clássicas e as do Presidente da República: as clássicas costumam acabar com uma moral; as de Cavaco, por se debruçarem sobre a nossa economia, terminam quase sempre com uma imoral. Também ensinam uma lição, mas é uma lição um pouco mais dolorosa.

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autor: Ricardo Araújo Pereira 
fonte: visão
data: 23 de Outubro de 2014
observação: os negritos, os itálicos, os sublinhados e os destaques são da minha responsabilidade


"deputado da nação" replica o texto acima para memória futura.

"deputado da nação" (re)afirma a sua concordância com as pertinentes observações do Autor.

"deputado da nação" nada mais tem a acrescentar.


"disse!"


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